quinta-feira, 3 de janeiro de 2008


A vida veste lama

A chuva caía sobre a igreja
E pelas escadarias escorriam
Os padres, as freiras, os santos...
As confissões e todos os pecados

A chuva caía pela rua
E entre o asfalto e as calçadas
Escorriam os mendigos, os pivetes,
As prostitutas, os ilegais, os informais e todo tipo de violência urbana...

A chuva caía sobre as casas legislativas
E pela tribuna escorriam a moral,
As propinas, o assédio sexual,
As promessas e a vergonha na cara...

A chuva caía sobre os salões de beleza,
E pelo espelho escorriam os alisamentos,
A maquiagem, os silicones, as cirurgias plásticas.
E todo tipo de superficialidade...

A chuva caía sobre as mansões
E pelos jardins escorriam
O mau cheiro da luxúria e da estupidez,
Que os perfumes franceses conseguem esconder...

A chuva caía na periferia
E no córrego escorriam
Os móveis, os eletrodomésticos,
As crianças, as verminoses, as zoonoses...

A vida se veste de lama
Quando chove ela escorre
E a realidade fica nua!


Gibran Jordão
03/01/2008
01:59 ( Madrugada)

3 comentários:

Naira Rosana disse...

A chuva, a água... metáfora para o que lava, para o que desencobre...
Escreveu lindamente esse seu poema de cunho social com lirismo mesmo!

Anônimo disse...

Difícil falar de realidades tão duras com tanta leveza e encanto.
Seus textos são ótimos. Parabéns!

Unknown disse...

Gibran, venho aqui para lhe falar que são muito bons os seus poemas e que você nunca desista nem se afaste desse dom que Deus te Deus!
Através deles, além de muita reflexão, vc traz também uma esperança para todos nós, míseros mortais.
Parabéns!
Do seu SMEPRE AMIGO, mesmo estando há quase 20 anos longe...
Pedro Covelo