terça-feira, 18 de dezembro de 2007


Varizes do tempo

Às vezes me sinto como um toco de cigarro
Na solidão de um toco de cigarro que flutua no resto de álcool
Na sujeira e na bagunça do fim da festa
Em meio ao cansaço dos garçons no final da seresta

Eu lembro da alegria da infância com alegria
Porque ali não via ele!
Estava o tempo todo passando por mim
Mas por muitos anos não o percebi

Na confusão alucinógena da minha adolescência
Nas baladas, beijos, brigas e na perca da minha inocência
Com o barulho do motor dos carros e dos tiros
Descobrindo o calor dos meninos e o sabor do absinto

Eu não notava quando ele passava
Mesmo quando o relógio da casa da minha avó badalava
E apontava que era hora do primeiro emprego
E me levantava às cinco horas da manhã perturbando o meu sossego

Eu tinha dor de dente, eu tinha contas pra pagar
Aparecia as dividas e o dente que doía eu mandava arrancar.
Fui assaltada e algumas vezes vendi meu corpo, vendi a alma pra escapar.
Nascia as rugas, nascia os calos, nascia os filhos pra criar...

E quando fiquei cega de paixão, na vez que pulei no mar...
Depois que já tinha me casado por duas vezes e não sabia o que era gozar.
Quando descobri o topo do prazer e imediatamente depois o fundo do poço...
Nem ali o vi passando, nem depois que ganhei do governo um óculos novo!

O espelho me mostrava os cabelos brancos
Mostrava-me os seios murchando...
Com meus dedos tentava inutilmente corrigir as rugas
Que se propagavam como a cidade... Que me reduzia ao tamanho de uma pulga...

Um dia na varanda sentada e olhando para minhas pernas
Que pareciam um céu repleto de bilhões de varizes
Impactada com a minha mais nova descoberta
Veio-me na cabeça minha vida em represes

Então eu pude vê-lo
Depois de lembrar de tantos amigos que perdi na juventude
Depois de lembrar de tantas alegrias que não me permiti por falta de atitude
Depois de tanto confundir o vicio com virtude

Só agora eu pude vê-lo
Depois de perceber que nesse país nos enganamos de dois em dois anos
Que compramos promessas, vendemos os sonhos e vivemos sem planos
O carnaval anestesia e a cachaça alivia a queda dos dentes e dos meus cabelos brancos

Só assim pude ver o tempo!
Que traga a vida como um cigarro
E sopra a fumaça no vento
E joga o toco no fundo do copo... Que flutua no álcool...

2 comentários:

Unknown disse...

Gibran, estou super feliz!!!!!
que bom que fez o blog...
nem me avisou! seu traidor!
bjo!

ligia disse...

´´...O carnaval anestesia e a cachaça alivia a queda dos dentes e dos meus cabelos brancos...´´
e ainda perguntam o que é carnaval..
e trabalham para um novo carnaval no ano que vem , eu vou a salvador no carnaval!!
eu to só vendo sabendo sentindo escutando..to mi guardando pra quando o carnaval chegar..
=)